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Terça-feira, 15 de janeiro de 2019 13h43


AGORA É LEI

Lambadão é reconhecido como movimento cultural e musical

Compete ao poder público assegurar as manifestações deste movimento, proibindo qualquer tipo de discriminação

EDUARDO RICCI / Gabinete do deputado Guilherme Maluf



Foto: WIDSON OVANDO DO NASCIMENTO / Consultoria Legislativa

Agora é lei. O lambadão, ritmo mato-grossense que anima muitas festas e representa a criatividade e expressão artística da baixada cuiabana, foi oficialmente reconhecido como movimento cultural e musical de caráter popular. A Lei nº 10.809/2019, de autoria do deputado Guilherme Maluf (PSDB), foi sancionada pelo governador e publicada no Diário Oficial nesta terça-feira (15).

Pela nova lei, compete ao poder público assegurar a esse movimento a realização de suas manifestações próprias, como festas, bailes, shows, reuniões e festivais, sem quaisquer regras discriminatórias e nem diferentes das que regem outras manifestações da mesma natureza.

Proíbe ainda qualquer tipo de discriminação ou preconceito, seja de natureza social, racial, cultural ou administrativa contra o movimento ou seus integrantes. “Cantores, músicos e dançarinos são agentes da cultura popular e, como tal, devem ter seus direitos respeitados”, afirma o autor da lei, Guilherme Maluf.

A nova legislação, segundo o deputado, oficializa o que na prática já está consolidado. “Entendemos que o lambadão é o ritmo da baixada cuiabana por excelência, já que a juventude desta importante região vive em seu cotidiano a música e a dança. Sou cuiabano e tenho orgulho da nossa cultura, por isso faço questão de trabalhar pela sua valorização”, ressaltou o deputado.

Conforme texto do projeto, na definição de movimento cultural e musical de caráter popular, inclui-se não apenas a música, mas também a forma de execução, os instrumentos, as danças e as coreografias do lambadão.

No ano passado, logo após a apresentação do projeto, integrantes da banda Erre Som estiveram no gabinete do deputado para agradecer a iniciativa. “Fizemos questão de vir aqui pessoalmente agradecer ao deputado Maluf pela apresentação deste projeto, que reconhece o verdadeiro valor do lambadão”, disse Ronny, vocalista da banda.

Ronaldo Soares, tecladista e vocalista, lembrou que a nova lei fortalecerá o estilo musical e contribuirá para sua difusão. “Muito legal a iniciativa, esse reconhecimento é muito importante. Afinal, o lambadão faz parte da cultura mato-grossense”, disse.

O músico também considerou fundamental a inclusão do artigo que busca coibir discriminação ou preconceito contra o movimento. “O lambadão ainda enfrenta preconceito. Assim como o funk, ele sempre foi visto como um ritmo musical e de dança da periferia. Hoje o funk se popularizou e é aceito por todas as classes sociais. Esperamos que isso também aconteça com o lambadão”, declarou.

Memória - Em sua monografia focada no lambadão, o jornalista e documentarista Dewis Caldas cita as influências musicais absorvidas pelo lambadão mato-grossense: a lambada paraense e o rasqueado que, por sua vez, tem influência da polca paraguaia. No Pará, a lambada fazia sucesso nas periferias e nos garimpos. Muitos garimpeiros que não prosperaram naquele estado foram para estados vizinhos em busca do ouro. Mato Grosso recebeu muitos grupos, especialmente nas cidades de Poconé, Rosário Oeste e Várzea Grande.

Uma pessoa que teve influência desses garimpeiros que trocaram o Pará por Mato Grosso foi Chico Gil, falecido em 2000, mas até hoje considerado o Rei do Lambadão. Nascido Francisco da Guia Souza, na cidade de Poconé, em 10 de setembro de 1956, Chico Gil foi carpinteiro, pedreiro e mestre de obras. Por volta de 1986, passou a trabalhar com o garimpo em Poconé, sendo garimpeiro de filão.

É dele o mérito de ter popularizado o gênero em Mato Grosso. Seu primeiro sucesso foi “Ei, amigo”, a primeira música que atingiu grande alcance na capital. Clederley Roberto de Souza, filho mais velho do cantor, afirma que “quando papai cantava, os garimpeiros e filãozeiros se sentiam realizados, pois ali estava alguém que representava a música favorita desses trabalhadores”.

Segundo o músico e videomaker Eduardo Ferreira, a expressão lambadão foi usada pela primeira vez em 1997, pelo cantor e compositor Zé Moraes, da banda Estrela Dalva, ao ser perguntado que tipo de música era aquela. A banda Estrela Dalva ganhou destaque no início do lambadão com hits como “Vou dançar com essa menina”, “Lambadão de Poconé” e “Você é minha”, que vendeu 20 mil CDs em um mercado em que a média de vendagens era de 3 mil cópias.

No início da década de 90, a banda Os Maninhos teve grande sucesso, sendo a primeira grande banda de lambadão reconhecida no estado, chegando a levar multidões para os shows em Cuiabá e Várzea Grande. Outra banda de sucesso foi a Styllus Pop Som, primeiro grupo a gravar o sucesso “Toque Toque DJ”, que ganhou as rádios do país e levou o lambadão mato-grossense (também chamado de lambadão cuiabano) a ser reconhecido em todo o Brasil.

O pesquisador e músico Guapo, no seu livro de pesquisas musicais no Centro-Oeste, Remedeia co que tem, fala sobre esse momento. “O lambadão, por ser uma música fácil, foi logo apropriado pelas bandas de rasqueado locais, as quais desenvolveram um estilo misturado com o siriri, ganhando assim o nome de lambadão cuiabano.

Vale ressaltar outros grupos neste contexto, as bandas Erre Som, Real Som e Scort Som, que tem mais de trinta anos de estrada.


Gabinete do deputado Guilherme Maluf

Telefone: (65) 3313-6980