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Quinta-feira, 12 de setembro de 2019 09h54


SETEMBRO AMARELO

Dívidas estão entre principais motivos da depressão e suicídio no país

A audiência pública realizada nesta semana trouxe orientações sobre educação financeira, já que o endividamento pode causar forte dor emocional e até suicídio.

ROSE DOMINGUES / Gabinete do deputado Dr. Gimenez



A funcionária pública e educadora financeira Renata Melo já passou por uma situação de depressão e endividamento, mas conseguiu superar e hoje ajuda outras pessoas a fazerem o mesmo

Foto: Rose Domingues Reis / Gabinete do deputado Dr. Gimenez

O número de pessoas inadimplentes no Brasil é maior que 63 milhões e representa, atualment,e um dos principais motivos geradores de depressão, doença que pode levar ao suicídio. A educadora financeira e servidora pública Renata Melo, explica que a oferta de crédito facilitado vem promovendo o adoecimento da população, em especial dos servidores públicos. 

Durante a audiência pública sobre prevenção à depressão e ao suicídio, realizada na terça-feira (10) pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Renata pontuou que a preocupação com as dívidas gera inúmeros problemas físicos e psicológicos, além de brigas em casa, separações e até dificuldades no trabalho. 

“O cartão de crédito é um grande vilão na vida das pessoas, pois a maioria delas acaba elevando o padrão de vida acima da renda mensal. Além disso, temos uma indústria do marketing muito mais voltada ao consumo desenfreado do que à educação financeira, e isso é preocupante”.

Renata pontua que falar sobre dinheiro não é apenas sobre dinheiro, envolve um conjunto de hábitos e crenças que precisam ser reeducados, mas ela afirma, por experiência própria, que é possível sair de qualquer situação de endividamento com planejamento e paciência. O fundo do poço pode ser uma oportunidade para adquirir novos hábitos.

Para o deputado e médico Dr. Gimenez, o isolamento e facilidades do celular e da internet potencializam o aumento do consumo e o adoecimento das pessoas

Foto: Ronaldo Mazza

“Em um momento de crise não adianta fechar o olhos e deixar acontecer. Oriento a pessoa a conhecer o tamanho da dívida e, depois, ir caso a caso renegociar, a partir de uma programação compatível com a capacidade financeira. Podemos trocar dívidas ruins por dívidas melhores (com juros menores, por exemplo). Recomendo também ajustes no padrão de vida da família”. 

O recomendável pelos especialistas na área é uma divisão do orçamento mensal da seguinte forma: 50% para despesas essenciais (água, energia, alimentação, transporte, etc), 30% lazer e compras, e 20% em investimentos (que devem ser feitos mesmo com dívida). Analisar e planejar os gastos pode evitar gastos desnecessários, a exemplo de taxas mensais bancárias que não são mais obrigatórias.

“Aqueles R$ 50,00 por mês do pacote mensal do banco ou do cartão de crédito significam mais R$ 600,00 ao ano. Quantas coisas desnecessárias você está pagando, que poderia economizar para investir ou mesmo ajudar a pagar a dívida? Será que podemos ter formas criativas de fazer renda extra? O mais importante é dizer para quem está numa situação difícil que existem meios de resolver, não é o fim da linha”. 

A servidora pública pontua que promover educação financeira entre crianças e jovens é essencial. Mas, mesmo que as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estipulem até dezembro deste ano para que as unidades escolares trabalhem esse tema em sala de aula, Renata avalia que nada foi feito na prática. 

Audiência pública sobre depressão foi realizada na terça-feira (10), no Dia Mundial de Prevenção ao suicídio, reunindo vários especialistas

Foto: Ronaldo Mazza

“Os alunos poderão aprender assuntos como taxas de juros, inflação, aplicações financeiras e impostos. Outro ponto positivo é que essa abordagem favorece o estudo interdisciplinar envolvendo as dimensões culturais, sociais, políticas e psicológicas, além da econômica, sobre as questões do consumo, trabalho e dinheiro”, avalia a especialista.

Impacto - O deputado estadual Dr. Gimenez (PV), que é médico, frisa que o estilo de vida atual, baseado no consumo e no imediatismo potencializam as doenças mentais, como depressão, transtorno de ansiedade, bipolar e alimentar. Há 40 anos trabalhando com o público infantil, ele afirma que com o advento de celular e internet, crianças e adultos pararam de conviver e se fecharam em si mesmas. “O vazio existencial aumentou e comprar é uma forma de estar mascarando isso”.

A funcionária pública é mãe do Luccas e da Angelina, de 6 e 8 anos, com quem adotou uma prática simples para ensinar sobre dinheiro, por meio de quatro potes: 1) hoje (comprar agora); 2) amanhã (presentes de aniversário e/ou Natal); 3) futuro (investimento para usufruir aos 18 anos); e 4) doação (compartilhando as bênçãos). “Eles estão receptivos e aprendem rápido, ou seja, podemos virar esse jogo se iniciarmos o processo educativo cedo”.

Os motivos que mais levam ao endividamento estão ligados a hábitos errados, entre eles, comprar por impulso, não ter um planejamento mensal e anual, e o imediatismo. Ao invés de guardar o dinheiro para depois comprar à vista com desconto, milhões de brasileiros preferem entrar em parcelamentos e muitos acabam na inadimplência. Também há um forte apelo por status. 

O escritor Alan Barros estava à frente de um Grupo de Apoio a pessoas com depressão às terças-feiras, 19h30, no Cine Teatro Cuiabá

Foto: Rose Domingues Reis / Gabinete do deputado Dr. Gimenez

“Não se trata do quanto ganhamos e sim de como gastamos. Há pessoas que ganham bem, porém acumulam dívidas devido à capacidade maior de endividamento e hábitos nocivos. No Brasil se atribui muito valor ao que temos, seja carro, casa, viagens, marcas de roupas e de outros objetos. Somos estimulados o tempo todo a aparentar algo que não somos ou temos”, finaliza Renata.

Grupo de apoio - Quer desabafar em um ambiente seguro e sigiloso? O escritor Alan Barros é o idealizador do Grupo de Apoio Gratuito que se reúne às terças-feiras, às 19h30, no Cine Teatro Cuiabá, Avenida Getúlio Vargas, centro da cidade. Ele teve depressão por mais de 20 anos e é autor do livro ‘Tenho depressão e agora?’, onde mostra que é possível superar os momentos difíceis da vida.

“Tinha 15 anos quando veio o primeiro diagnóstico, mas por falta de tratamento o quadro evoluiu para transtorno de ansiedade e depressão bipolar, que alterna tristeza e euforia. Passei mais de 12 anos com pensamentos suicida. Como eu sei que é difícil encontrar um local para falar sem ser julgado e criticado, criei este espaço onde nos reunirmos”. 

Ele mantém uma conta no Instagram com informações para pessoas que enfrentam esse problema, mas não se encaixam naquele padrão convencional de depressão. “Pessoas com depressão trabalham, sorriem, levam uma vida aparentemente normal e geralmente deixam de buscar ajuda porque não se identificam com a imagem do deprimido que é tratada pela mídia, como uma pessoa no fundo do poço”. 

A faixa etária mais vulnerável à depressão e ao suicídio hoje está entre 15 e 25 anos, por isso a necessidade de medidas preventivas nas escolas

Foto: Ronaldo Mazza

Números - A cada 3 segundos uma pessoa no mundo tenta o suicídio, e a cada 40 segundos, uma pessoa consegue dar fim à própria vida. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 90% dos casos poderiam ser evitados a partir de uma rede de apoio estruturada, que inclui saúde pública, família, amigos e trabalho. 

Cerca de 320 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com depressão, segundo a OMS.  No Brasil, mais de 11 milhões de pessoas são afetadas pela doença, entre crianças e adultos, a faixa etária mais afetada está entre 15 e 25 anos. Em média, 80% dos casos de suicídio envolvem homens e 20% mulheres. 

Tenha sempre uma rede de apoio para quem possa pedir ajuda a qualquer, pode ser um amigo, conhecido ou familiar. Mas precisa desabafar e não sabe com quem? Ligue para a escuta ativa do Centro de Valorização da Vida (CVV) no 188 (gratuita), durante 24 horas diariamente. 


 


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