Por meio de ofício, o general de Divisão Heleno Augusto Ribeiro Pereira esclareceu para Satélite detalhe das cartas editadas em 1982. “Nelas, a divisa MT-PA - constituída por linha seca (não caracterizada por qualquer acidente natural) - é indicada como ‘aproximada’, indicando a situação vigente à época”, disse o oficial-general.
Ele também disponibilizou a Coleção de Cartas de Mato Grosso e Regiões Circunvizinhas, de 1952, baseada nos trabalhos de marechal Rondon. Os documentos fazem parte do acervo do Arquivo Histórico do Exército, que é o depositário, e complementarão o conjunto de obras que está sendo levantado por Satélite para compor o dossiê do governo de Mato Grosso.
“Estas três cartas topográficas são as primeiras de mapas e relatórios que estamos conseguindo reunir e que serão de extrema importância para uma decisão final favorável a Mato Grosso e, em especial, ao povo do Nortão”, comemorou o parlamentar socialista. As cartas mostram as regiões dos Rios Nhandu e Braço Sul, e da Serra de Cachimbo.
Os documentos que resultaram do trabalho de Rondon estão sendo vistos como decisivos em favor de Mato Grosso em quaisquer níveis e instâncias da discussão entre Mato Grosso e Pará. Para o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse material terá “peso significativo” (favorável a Mato Grosso) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) em sentença que vier a ser dada a uma possível ação judicial.
“Não creio que precisemos chegar a esse extremo. As autoridades paraenses vêm se mostrando sensíveis às nossas argumentações e a obra do Marechal Rondon sobre o assunto, com certeza, reforçará esse entendimento”, concluiu Satélite. Como órgão oficial do governo federal, o IBGE tem atribuições relacionadas à definição de limites entre Estados e não considerou as Cartas de Rondon em seu trabalho.
O próximo passo de Satélite no levantamento cartográfico já foi dado. Ainda no início desta semana, ele encaminhou a segunda solicitação formal ao Exército, agora destinada ao Arquivo Histórico do Exército, para conseguir documentos que fazem parte da Coleção de Cartas de Mato Grosso e Regiões Circunvizinhas.
Credibilidade de Rondon
Tudo começou em 1890, quando Cândido Rondon foi para o sertão. Nele, o oficial do Exército desbravou e estudou uma área de 500 mil quilômetros quadrados, deixando estradas em condições para as carroças - veículos da época - e linhas e postos telegráficos.
Por conta desse trabalho, no início de 1907, o então presidente da República, Afonso Pena, perguntou ao, à época, major Rondon se era possível ligar Mato Grosso ao Amazonas por telégrafo. ”É só querer, senhor presidente!”, respondeu o oficial. Ainda naquele ano foi criada a Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas - a tão falada “Comissão Rondon”.
Segundo o um dos grandes amigos de Rondon, na época, o coronel do Exército Amílcar Magalhães, chegou a afirmar: “Rondon fez-se astrônomo e criou em torno de si um núcleo de oficiais astrônomos, seus discípulos”, para a perfeição da Carta de Mato Grosso, fixando as coordenadas geográficas de todos os pontos por onde passou a linha telegráfica.
Todo o trabalho desenvolvido por Rondon lhe rendeu, em 1913, a indicação feita pelo então ministro do Exterior do Brasil, Lauro Muller, para chefiar a comissão brasileira formada para acompanhar o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodoro Roosevelt. O novo trabalho: estudar os sertões de Mato Grosso e do Amazonas. Na ocasião, Rondon disse que aceitaria se a missão tivesse caráter científico-geográfico.
Tudo isso rendeu elogio histórico feito por Roosevelt em seu livro Through the Brazil Wilderness: “O coronel Rondon tem, como homem, todas as virtudes de um sacerdote: é um puritano de perfeição inimaginável na época moderna e, como profissional, é tamanho cientista, tão grande é seu conjunto de conhecimentos, que se pode considera-lo um sábio.
A América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao Norte, o Canal do Panamá; ao Sul o trabalho de Rondon - científico, prático e humanitário”.
Entre outros trabalhos, Rondon inspecionou mais de 17 mil quilômetros de fronteira, construiu mais de sete mil quilômetros de linhas telegráficas e abriu 720 quilômetros de estradas “carroçáveis”. Esses detalhes foram publicados por J. Lucídio N. Rondon no livro Geografia e História de Mato Grosso, editado pela Gráfica Urupês em 1970.
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