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Quinta-feira, 26 de setembro de 2019 22h31


Ficha Técnica: Tribalistas - Tribalistas

Luciano Campbell / Superintendência da Rádio Assembleia



MI CASA, SU CASA -- As batidas na porta eram certeiras. Ninguém batia daquele jeito. Ela já conhecia até mesmo o jeito como ele chegava, manso, quieto, sem anúncios. Sempre preparava algo para recebê-lo e, mesmo que ele não quisesse comer, ela insistia. Havia sempre um suco ou chá para acompanhar. Com aquelas visitas, no meio da tarde, ela sentia a vida mais leve, mas não era apenas isso. Sentia também um carinho, um cuidado e a vontade de dividir o tempo (precioso tempo) com aquela pessoa que, no fundo, ela nem conhecia direito. Ou será que conhecia? Quando ele vinha, o tempo sempre corria mais rápido. No entanto, independente do tempo disponível, havia sempre aquela sensação de paz, de entrega e tudo o que acontecia era acompanhado pelos doces passos da naturalidade. Fosse num domingo à noite ou numa atribulada tarde de quarta-feira, algumas coisas sempre estavam presentes. Entre elas, o cheiro de lavanda francesa e as batidas fortes, aceleradas, do coração dela. Saber que ele estava a caminho já era motivo de alegria, mas não adiantava: quando ele batia à porta, o coração pulava no peito. O sonho dela era que, um dia, ele viesse para dormir, passar a noite, ficar mais tempo, sem se preocupar com o tempo. A vontade dela era tê-lo mais perto e, isso, ela nunca escondeu. Mas havia situações, impedimentos, fatores, ponderações que tornavam aquele sonho muito distante. Impossível? Um dia ele avisou que viria mas, provavelmente, não seria para dormir. Mesmo assim, ela ficou feliz. Providenciou algo para comerem, colocou umas bebidas para gelar e arrumou o apartamento, enquanto ouvia “Passe em casa”, dos Tribalistas. Esperou durante toda a noite. Ele não apareceu. Quando o sono chegou, a encontrou impaciente e aflita, para combinar com a música que ela tanto havia escutado aquele dia. Caminhou até a cama e dormiu pesado, triste, mas resiliente. Na madrugada, enquanto ela dormia, ele chegou. Tinha uma cópia da chave e entrou com cuidado, sem fazer barulho. Tomou água gelada, tirou os sapatos, apagou as luzes e deitou ao lado dela, que nem mesmo se mexeu. Dormia um sono profundo. Ele a abraçou. Sentiu a paz que o corpo dela emanava, a sensibilidade, a tranquilidade. Porém, ele também sentiu o cansaço daquele corpo, a angústia e, sobretudo, a esperança de quem passou tanto tempo à espera daquele amor.

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