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Sexta-feira, 23 de outubro de 2015 16h43


"AO MESTRE, COM CARINHO"

Sensei José Humberto recebe homenagem no Teatro Zulmira Canavarros

Reconhecido internacionalmente, mestre do karatê compartilha neste sábado a gratidão da família e dos discípulos com a comunidade mato-grossense em peça criada pelo filho Rodrigo

HAROLDO ASSUNÇÃO / ASSESSORIA DO TEATRO ZULMIRA CANAVARROS



Sensei José Humberto recebe homenagem neste sábado, no Teatro Zulmira Canavarros (Foto: Rodrigo Lúcio - Academia shotokan)

“Quando eu tinha meus seis, sete anos, morava na fazenda e ajudava meu pai na lida. Uma das tarefas era apartar o gado e, uma vez, já era noite, uma vaca investiu furiosa em mim e eu passei por debaixo da cerca, chorando de medo corri pra casa. Meu pai me deu um cabo de enxada e mandou eu voltar e fazer ela me respeitar. A vaca nunca mais mexeu comigo e agradeço meu pai até hoje”.

A lembrança do sensei José Humberto de Souza, filho de uma família de seis irmãos – três homens, três mulheres - não será retratada no espetáculo “Ao mestre, com carinho”, que rende homenagem a ele neste sábado (24), às 20h, no palco do Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros.

O espetáculo – que tem roteiro e direção assinados pelo filho do mestre, Rodrigo Lúcio – conta a história do professor entre os anos de 1970 e 1990 e mostra esta parte de sua história - seu casamento, a paternidade  seus primeiros títulos nacionais e internacionais, e a fundação da Academia Shotokan .

A Shotokan, sem exagero, é uma verdadeira “fábrica de campeões”. Prova disso foi o excepcional desempenho do time de Mato Grosso no último campeonato brasileiro - que também foi seletiva para o Pan-Americano que será disputado no próximo mês, em Natal (RN). Dos 38 atletas de Mato Grosso, apenas um não ficou entre a primeira e quarta colocação.

Levar os atletas à competição, além da justa homenagem ao mestre, é a razão do espetáculo. “Infelizmente, o custo é muito alto e não vai dar pra ir todo mundo, mas pelo menos metade dos trinta e sete classificados devem representar o Brasil no campeonato”, adianta Rodrigo.

Ele conta que a montagem de espetáculos para arrecadar recursos necessários à participação dos atletas matogrossenses em competições tem sido uma alternativa ao tímido apoio governamental.

A iniciativa começou em abril deste ano com o intuito de divulgar o projeto social da Academia Shotokan – “Karatê Dô Tradicional Esporte e Cidadania” -, apoiado pelo “Criança Esperança” da Rede Globo/Unesco.

“Montamos, em parceria com o Instituto Ciranda, que mantém a Orquestra Jovem do Estado de Mato Grosso e também é apoiado pelo ‘Criança Esperança’, o espetáculo ‘Esperança, Música e Karatê pela Cidadania’, que teve a participação fundamental do carateca Andrei Azevedo, que também é ator e abriu pra gente os caminhos do teatro”, agradece Rodrigo Lúcio.

Depois do sucesso da montagem, outra parceria foi feita – com a Academia Dançart - para levar ao palco a arte marcial – desta vez com a finalidade de arrecadar fundos para a viagem dos 38 atletas matogrossenses que participaram do Campeonato Brasileiro, em Salvador (BA).

O espetáculo “Karatê e Dança no ritmo da luta” lotou o Teatro Zulmira Canavarros em junho e possibilitou a vitoriosa participação da equipe de Mato Grosso na competição nacional.

O ESPETÁCULO – Rodrigo Lúcio conta que a idéia de homenagear o pai havia brotado há tempo e “estava sendo amadurecida” – o espetacular desempenho da equipe matogrossense no Campeonato Brasileiro e a necessidade de conseguir recursos para a participação no Pan-Americano acabaram por adiantar a realização do projeto.

A peça “Ao mestre, com carinho” retrata pessoas importantes na vida do mestre José Humberto de Souza – amigos, professores, discípulos, família. Quarenta atletas tornaram-se atores para encenar a homenagem ao sensei – tiveram para isso a colaboração do dramaturgo Flávio Ferreira e da trupe do Cena 11 em oficinas teatrais. Rodrigo Lúcio interpreta o pai quando jovem.

O MESTRE – Conforme dito antes, o episódio contado pelo sensei José Humberto de Souza no início do texto não será mostrado no espetáculo.

A história de vida do mestre – 45 dos 59 anos completados no último dia 10 foram dedicados ao Karatê – vai muito além do ‘dojo’ e do que retrata a peça que o homenageia. “É muita história pra contar...”, justifica Rodrigo Lúcio.

Emblemático na memória do professor, “o caso da vaca” traduz alguns dos aspectos mais marcantes de sua personalidade, tais a coragem e a determinação.

Depois da infância no campo, o pai rizicultor levou um calote de safra inteira e teve que vender a fazenda. O adolescente José Humberto foi para sua cidade – é mineiro de Uberlândia - e virou um menino brigão na rua, embora responsável na escola e no trabalho. Primeiro, ajudou o pai na papelaria que o velho abriu com o que sobrou do “tombo” que levara. Depois, quando aprendeu datilografia, foi trabalhar em uma empresa. “Mas, na rua, era briga a semana inteira”, confessa o mestre.

As confusões o procuravam, segundo ele. Era “bom de briga” e, naquela época – ainda hoje é meio assim – tinha sempre a disputa, sempre um querendo ser o melhor, o “rei da rua”.

E assim foi, até que ele bateu no sobrinho de alguém perigoso, um chefe de gangue. E pior: adulto.

“Aí, teve um dia que eu estava no campo de futebol e vi alguém me apontar pra um cara enorme, que veio pra cima de mim; eu tava com limalha de ferro nos bolsos, joguei nos olhos dele e depois dei uma surra daquelas”, lembra.

Isso foi num domingo.

Na segunda-feira, temeroso de possível vingança, matriculou-se na Academia Takey, aos cuidados do professor Rui Parente. O esporte mudaria sua vida para sempre. Nunca mais brigou na rua, afastou-se das velhas companhias e tornou-se um grande vencedor.

Treinava dia e noite, nos intervalos da escola, na hora do almoço, de manhã cedo. Montou um grupo para praticar nas horas vagas e “puxava o treino”. Nasceu ali o professor.

“Mais que esporte, arte marcial, o karatê é uma ferramenta educacional fantástica”, assinala.

A ACADEMIA – Em meados da década de 1970, decidido a cursar engenharia, José Humberto queria estudar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) mas, por desinformação, inscreveu-se no exame para a Academia Militar das Agulhas negras (Aman). Passou, mas não quis ir – não pretendia ser militar, mas engenheiro.

Por conta das provas da Aman, perdeu o vestibular da faculdade de Uberlândia. Sua madrinha, que morava em Cuiabá, convidou-o a prestar o exame na Universidade Federal de Mato Grosso (Ufmt).

Veio, passou, ficou e venceu. Já no primeiro semestre do curso, conseguiu estágio na Construmat, que executava serviços no ‘campus’ universitário. “Não saí do pé dos engenheiros, fiquei ‘sapeando’ o canteiro de obras até que me deram uma chance”, recorda. Depois de formado e com a experiência profissional adquirida desde que começara o curso, foi contratado pela Infraero e ficou por muitos anos no Aeroporto Marechal Rondon.

Em Cuiabá, casou-se com a alma-gêmea que conhecera na cidade natal, Angela Maria Lúcio de Souza, mãe dos filhos Rodrigo e Renato, ambos cuiabanos.

Claro, sem deixar o Karatê um só instante. Chegando a Cuiabá, procurou a Academia Edmundo Curvo – na época, era costume nas escolas submeter o novato a um “teste de luta” com os melhores da Casa. José Humberto saiu-se bem e logo começou a dar aulas. Dali, continuou a treinar atletas – agora por conta própria – na antiga sede do Mixto Esporte Clube, na avenida Getúlio Vargas, onde hoje é o Clube de Dirigentes Lojistas. Até que o amigo – e aluno – Luís Duarte propôs sociedade para montar a escola. Nascia a Academia Shotokan, em janeiro de 1979.

Em 1991, ele deixou a Infraero para dedicar-se exclusivamente à academia – determinado a classificar atletas para a Seleção Brasileira. No ano seguinte, já eram dois, hoje são trinta e sete. Nesses anos todos, a Shotokan construiu uma verdadeira hegemonia nas competições nacionais, organizou os campeonatos brasileiros de 1993, 1995 e 2003 e, em momento histórico para as arrtes marciais em Mato Grosso, trouxe para cá o Pan-Americano de 2009.

Ele não esquece de mencionar dois mestres japoneses que contribuíram sobremaneira para o sucesso do trabalho na Academia Shotokan: Hidetaka Nishiyama, falecido em 2007, e Hiroshi Shirai, radicado na Itália e reconhecido como um dos maiores mestres do Karatê Dô Tradicional.

Às vésperas de tornar-se sexagenário, o espírito do sensei José Humberto de Souza é o de um jovem.

“Estou só no começo”, sentencia o mestre.

SERVIÇO

O QUE: Espetáculo “Ao Mestre, com carinho”

ONDE: Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros

QUANDO: Sábado (24), às 20h

QUANTO: R$ 20

INGRESSOS: Na Academia Shotokan, à rua Antônio Maria, 649, Centro, ou à entrada do espetáculo na bilheteria do teatro

MAIORES INFORMAÇÕES: 3052-1140

 

 


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Telefone: (65) 3313-6283

E-mail: imprensa1al@gmail.com


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