Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

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Sexta-feira, 16 de junho de 2006 09h50


O DEPUTADO JOãO MALHEIROS (PPS) DESTACOU NESTA SEMANA A IMPORTâNCIA DO DIA 13 DE JUNHO NA HISTóRIA DE MATO GROSSO. DATA QUE ALéM DE COMEMORAR O DIA DE SANTO ANTôNIO TAMBéM MARCOU A ESTRéIA DA SELEçãO BRASILEIRA NA COPA DO MUNDO DE 2006, NUM SOFRIDO 1 X 0 CONTRA A CROáCIA. DURANTE A SESSãO DESTA QUARTA-FEIRA MALHEIROS...

Malheiros destaca marco na história de MT

Parlamentar relembrou na tribuna o dia em que forças expedicionárias recrutadas em Cuiabá, retomaram Corumbá do exército Paraguaio

REDAÇÃO / SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO



O deputado João Malheiros (PPS) destacou nesta semana a importância do dia 13 de junho na história de Mato Grosso. Data que além de comemorar o dia de Santo Antônio também marcou a estréia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2006, num sofrido 1 x 0 contra a Croácia. Durante a sessão desta quarta-feira Malheiros disse que o dia 13 de Junho, que dá nome a uma das ruas mais importantes do centro de Cuiabá, faz parte das mais belas, heróicas e trágicas páginas da história do povo cuiabano e de Mato Grosso.

Ele destacou que nessa data foi o dia em que forças expedicionárias de um corpo de voluntários da pátria, todas recrutados em Cuiabá, retomaram Corumbá do exército Paraguaio - marco sangrento de guerra que varreu a América do Sul.

“Foi um ato de bravura e de patriotismo exemplar que marcou não só a historia de um povo, mas, também definiu o futuro deste pedaço de continente, dando as feições geográficas e econômicas que iriam prevalecer nos próximos séculos”, relatou.

Para o deputado, a falta de lembrança deste episodio é mais que um desrespeito ao passado, significa o desvanecimento da história de um povo que, com sua coragem e tenacidade, vencendo o isolamento geográfico e todos tipos de adversidades, e fez da região Centro Oeste um pedaço do território brasileiro. “Não pode acontecer tamanha injustiça. Um povo que não respeita sua história, e quão bela é a nossa, perde mais que a identidade, perde a perspectiva de um futuro brilhante”, definiu.

Abaixo, a história do “13 de junho” lida em plenário de autoria do arquiteto e professor da Unic, José Antonio Lemos dos Santos.

13 DE JUNHO: A EPOPÉIA CUIABANA

Não se trata de cantar as guerras. Ainda mais em tempos tão belicosos como estes em que vivemos. Nem se trata de falar em mocinhos e bandidos. Falo de vítimas, mártires e heróis. Estes os principais produtos de uma guerra, que os produz em todos os lados conflitantes. E todos eles merecem sempre a reverência daqueles que lhes sobrevivem, justificando que cada povo homenageie especialmente seus próprios mártires e heróis, pois estes são partes de sua gente, símbolos de sua história concreta e de sua afirmação como povo.

13 de Junho deveria ser uma oportunidade para a lembrança de alguns de nossos heróis e do maior martírio sofrido pela gente cuiabana. Até bem pouco tempo era matéria escolar obrigatória; hoje, recordações esparsas, imprecisas. Pouco a pouco vamos esquecendo que a maior guerra da história das Américas ocorreu aqui, e que nossa gente pagou muito caro por ela. A chamada Guerra do Paraguai foi realmente uma conflagração de grande magnitude, que reuniu Brasil, Argentina, Uruguai , contra o Paraguai, na época o país mais desenvolvido industrialmente na América Latina. Mato Grosso estava no meio do caminho.

Nada mais forte porém do que a guerra, principalmente contra um adversário tão mais poderoso, para temperar o espírito de um povo. Por sorte ou azar a Guerra do Paraguai foi um dos momentos mais importantes da história da cuiabania., cuja fibra já vinha sendo testada ha quase século e meio de existência, nas terríveis adversidades enfrentadas no ermo interior continental. Entre os diversos episódios de heroísmo e bravura vividos pelos cuiabanos, um dos mais belos foi o da Retomada de Corumbá, a 13 de Junho de 1867.

Ocorreu que os paraguaios tomaram sob seus domínios a cidade de Corumbá, que pertencia a Mato Grosso, na época. Os cuiabanos foram lá, enfrentaram o exército mais poderoso do continente e retomaram para o Brasil aquela importante cidade. Nessa empresa fomos organizados pelo Presidente Couto Magalhães e comandados diretamente pelo então Capitão Antônio Maria Coelho, num “fato heróico exclusivamente cuiabano”, como nos ensina Pedro Rocha Jucá em sua fantástica Varanda Cuiabana. Será que existe episódio semelhante na história do Brasil? Não vieram forças de fora. Foram só as forças militares locais, acrescidas de voluntários. Sem incentivos fiscais ou outras regalias, só patriotismo. E olha que daqui a Corumbá tem chão, isto é, tem água, e muita.

Recordemos que naquela época não tínhamos telégrafo, telefone, avião, nem sequer uma reles garrafa térmica. Que exemplo de determinação envolvendo questões de espionagem, logística, estratégias, etc., para lutar por um pedaço de Mato Grosso e do Brasil, já aparentemente perdido.

Mas a história não para por aí. As tropas retornaram à Cuiabá contaminadas com varíola. Segundo algumas versões havia um surto da doença em Corumbá quando da Retomada. A epidemia tomou conta de Cuiabá, matando mais da metade de sua população, segundo Francisco Ferreira Mendes, acrescentando que em cada casa havia pelo menos um doente, e que “a cidade ficou juncada de corpos insepultos, atirados às ruas, cuja putrefação empestava mais a cidade com a exalação produzida pela decomposição.

Determinou o governo a abertura de valas e a cremação de cadáveres no campo do Cae-Cae, medida que se tornou ineficaz. Não raro eram visto cães famintos arrastando membros e vísceras humanas pelas ruas.” Há uma historiadora da UFMT que levanta a hipótese desta ter sido uma das primeiras aplicações de guerra biológica.

13 de Junho, para sempre tem que lembrar um episódio de bravura e de dor de um povo humilde, mas determinado, da história de nossa gente, gente concreta, de carne e osso, não de livros, de novelas e cinemas. Gente que anda aí na Praça Alencastro, no Porto, no Coxipó ou no CPA. Gente que sem perceber vem sendo vítima de um processo de lavagem de sua memória histórica, a ponto da maioria não se lembrar mais de que nas suas veias corre o valoroso sangue de seus bisavós, o mesmo que vem participando heroicamente, ao longo de três séculos, da construção de nosso país, e serve atualmente de base para a ocupação de todo este miolo rico e próspero do continente sul-americano.

Na Praça Luis de Albuquerque, aquela do Porto - junto à ponte Júlio Müller - existe um obelisco, monolítico, que foi doado à população cuiabana pela população corumbaense em reconhecimento, por ocasião da comemoração dos cinqüenta anos da Retomada. Quem ainda se lembra disso?

Enquanto isso, na pracinha do Cae-Cae, nem sequer uma placa. A própria cidade expandiu trazendo para o seu seio o Campo Santo, outrora afastado. Ainda resta uma cruz, solene, e uma igrejinha ao lado onde as missas dominicais são “pela intenção dos bexiguentos”, mesmo que as maiorias dos fiéis não saibam mais do que se trata. Talvez um dia possamos ter ali um monumento à paz em geral, em memória de nossos heróis e mártires, os nossos e os paraguaios, irmãos e hermanos, que jamais podem ser esquecidos, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para não ser repetida.

JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, professor universitário e Secretário-Adjunto da SMTU

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