A empresa responsável pela construção da Usina de Manso, Furnas Centrais Elétricas, parece não querer negociar solução para os atingidos pela barragem. Cerca de 100 pessoas permanecem acampadas em frente à Assembléia Legislativa. A audiência com o Ministério Público Federal, iniciada na manhã de ontem (6), foi suspensa a pedido dos representantes de Furnas e Ministério de Minas e Energia. Deveria prosseguir no período da tarde. "Mas Furnas vazou da reunião", critica a deputada Serys Slhessarenko (PT).

Diversos manifestantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) estavam do lado de fora do prédio do Ministério Público Federal, desde a manhã. "São pessoas simples, pobres, que querem solução imediata", explica Serys. Um senhor idoso abordou, de modo indevido, o procurador Moacir Mendes no saguão, mas o MAB pediu desculpas pelo incidente. "Aquele senhor, muito humilde, não tinha intenção de atrapalhar a negociação e, principalmente, não refletia a conduta do movimento". O procurador aceitou as desculpas.

Os representantes de Furnas, que não sofreram qualquer tipo de ameaça ou agressão, viram no episódio a brecha que precisavam para não comparecer ao prosseguimento da audiência. Foram embora de Cuiabá. "Furnas não tem limites. É uma estatal e o Ministério de Minas e Energia tem que lhe dar limites. Furnas sabia que teria que cumprir acordos firmados com o Ministério Público Federal. A reunião, no período da manhã, havia avançado muito", afirma a parlamentar.

Serys explica que ficou decidido formar três comissões para verificar as reclamações existentes: atingidos excluídos, ribeirinhos e assentados. O Ministério de Minas e Energia e Furnas, em princípio, queriam ampliar a discussão, com uma reunião nacional. "Não temos nada contra a reunião nacional com o MAB, mas entendemos que precisamos solucionar um problema daqui, emergencial. Furnas teve que se comprometer, inclusive, a cumprir com as obrigações que vierem a ser destacadas por essa comissão".

No momento de indicar os nomes da comissão, houve o incidente com o procurador Moacir Mendes. Furnas e o Ministério de Minas e Energia pediram a suspensão daquela reunião, o que foi feito, até porque já passava do meio dia. Os trabalhos deveriam ser retomados no período da tarde, mas Furnas deliberou por não comparecer. "O procurador Moacir Mendes se mostrou sensibilizado pelas reclamações dos trabalhadores e entendeu que, em prazo curto, Furnas deverá comparecer para negociar. O Ministério Público Federal tem interesse em resolver o impasse. Furnas não pode fazer o que bem quiser".

Os deputados Serys Slhessarenko e José Carlos do Pátio participaram da audiência. "A Assembléia Legislativa está intermediando a negociação. Quer que sejam formadas as três comissões acordadas na manhã de ontem, com representantes de Furnas, do Ministério das Minas e Energia, do Ministério Público Federal e dos próprios atingidos. Os deputados não vão compor tais comissões, mas apoiar as conclusões desse trabalho. Furnas precisa aprender a negociar e, principalmente, rever seus erros", finaliza Serys.

Fábio Carvalho